domingo, 25 de abril de 2010
Quando a indiada do Brasil avistou os primeiros portugueses, esses já monopolizavam, a partir da Ásia, a produção e o comércio mundial da canela e outras especiarias. Nascia o primeiro império global da humanidade, por obra e graça de Portugal. Das ruínas do império restou um patrimônio: a língua portuguesa, assim como o latim sobreviveu aos romanos.
Mas na Roma Lusitana fala-se desigualmente o português. O Brasil é herdeiro privilegiado, pelo tamanho e pelo decreto que nos fez quase unilingües, desalojando os falares indígenas do dia-a-dia da maioria da população. Africanos e asiáticos, por outro lado, conservam suas culturas milenares também nos (e através dos) idiomas nativos, e não se esquecem de quanto é branca a língua do branco. Variações no uso cotidiano de uma língua oficial (nacional para uns, estrangeira para outros) não diminuem a importância atual do português como elemento unificador desses povos: na educação formal, nas relações institucionais e nas ações de reerguimento de países pauperizados pela história. Um dos projetos em curso que fazem bom uso do idioma comum é a Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, a Unilab.
A Unilab é uma iniciativa do governo federal brasileiro com o aval da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a CPLP, e aguarda sua formalização no Congresso (aprovada nas comissões da Câmara, segue agora para o Senado), mas já conta com o campus brasileiro. A universidade terá sede em uma cidade cearense com o apropriado nome de Redenção, pioneira em abolir a escravidão já em 1883. A Unilab irá atuar, prioritariamente, nas áreas de agronomia, energia, formação docente, gestão e saúde, e a formação residencial no Brasil será completada nas universidades dos demais países, onde os alunos serão diplomados.
Nas palavras de Paulo Speller, presidente da Comissão de Implantação da Unilab, “Metade de seus cinco mil estudantes será brasileira, enquanto a outra metade virá de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, com forte apoio de universidades e governo portugueses”. Haverá uma integração da extensão, da pesquisa e da pós-graduação nas regiões e países de atuação da Unilab, e, no plano interno, uma integração ao Plano de Desenvolvimento Regional da região nordestina de sua instalação brasileira (o projeto lembra, em mais de uma qualidade, a “Universidade necessária” sonhada e buscada por Darcy Ribeiro).
No dia 25 de abril de 1974, a Revolução dos Cravos livrou Portugal de uma ditadura e marcou, na África, o começo do fim de mais de 500 anos de humilhação colonialista. 36 anos depois, está aí a chance de sentirmos novamente esse gostinho, quando países de língua portuguesa, dos cinco continentes, somam forças em projetos de integração solidária e promoção do desenvolvimento. Sabe bem a uma nova redenção, com o cheiro do cravo e da cor da canela.
O Tempo, 25 de abril de 2010
Postado por Beto Vianna às 16:02
quinta-feira, 6 de maio de 2010
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