Postado em :15/10/2010
Voltado ao diálogo com o continente africano, o III Festival UFC de Cultura promete reunir música, cinema, artes visuais, além dos debates dos Encontros Universitários
Espaço aberto para a cultura na universidade. Com a participação de professores e alunos, a Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing da Universidade Federal do Ceará lançou na última quarta-feira, em coletiva de imprensa, o III Festival UFC de Cultura. Na ocasião, foram apresentados os detalhes do evento, que acontece de 18 a 22 de outubro.
Depois de recordar as lutas de maio de 1968 e rememorar a poesia de Patativa do Assaré, o festival chega à terceira edição com o tema "Ceará, África e Lusofonia: Encontros e Diálogos Além-Mar", que propõe uma grande reflexão sobre as influências e diálogos possíveis entre o continente africano - especialmente os países de língua portuguesa - e o nosso Estado.
"Esse tema vem sendo sugerido desde a primeira edição, devido à relação cada vez mais próxima entre países lusófonos. Um exemplo foi a luta do Ceará para trazer a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab)", ressaltou o coordenador de comunicação da UFC, Paulo Mamede. "Nosso Estado é porta de entrada no Brasil para as comunidades de língua portuguesa, devido à posição geográfica estratégica. Devemos transformá-la em posição geopolítica".
Maior e melhor
Entre as novidades desta terceira edição estão a internacionalização do festival e sua realização simultânea à dos Encontros Universitários 2010 (20 a 22 de outubro), evento que expõe a produção e as ações da Universidade nos âmbitos do ensino, da pesquisa e da extensão.
A junção dos dois eventos deve garantir público ainda maior nos campi da UFC, que suspende as aulas durante os Encontros. "Teremos a participação de pesquisadores de diferentes países, além dos shows internacionais. Nossa ideia é fazer uma grande reflexão, promover o diálogo dentro da universidade", reforçou Mamede.
É no seminário "Ceará, África, Lusofonia" que o debate ganha espaço privilegiado, graças à presença de autoridades, intelectuais e professores nacionais e estrangeiros nas áreas de pesquisa e política sobre as relações Brasil-África. Na pauta, os caminhos da África, as heranças deixadas pelo continente no Brasil, o papel do negro na sociedade, o preconceito racial e o ensino de História da África nas escolas brasileiras.
A programação tem início na segunda-feira (18), às 9h30, com a mesa-redonda "Histórias e saberes no panorama das culturas africanas". Participam o angolano Felipe Zau, PhD em Ciências da Educação, e o historiador congolês Jacques Depelchin. No mesmo dia, às 14h, o Reitor Paulo Speller, da Unilab, ministra palestra sobre os desafios da nova instituição, sediada no município cearense de Redenção, o primeiro no Brasil a decretar o fim da escravidão, em 1884. Inicialmente, a Unilab receberá estudantes de países lusófonos, com o objetivo de fortalecer a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), formada por Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.
Som para todos
Outro ponto alto da programação do festival é a agenda de shows musicais à noite, com 15 artistas confirmados até o momento. Dentre os destaques, estão a cantora portuguesa Teresa Salgueiro - ex-vocalista do grupo Madredeus - e a cubana radicada em Cabo Verde Mayra Andrade. As suas se apresentam nos dias 18 e 19, respectivamente, na Concha Acústica da Reitoria da UFC.
Teresa chega ao festival com repertório que mistura canções de seus três mais recentes discos: "Você e Eu", gravado em São Paulo, com interpretações da música brasileira das décadas de 1930 a 1970; "La Serena", no qual faz parceria com o grupo erudito português Lusitânia Ensemble; e "Silence Night and Dreams", com o qual a artista tem subido ao palco em várias cidades da Europa.
Já Mayra Andrade apresenta o disco "Stória, Stória...", em que faz relatos sobre o amor e o cotidiano. A cantora e compositora colabora com artistas brasileiros como Chico Buarque e Caetano Veloso. Antes das duas atrações internacionais, apresentam-se os grupos cearenses Syntagma e Breculê, além do baterista, percussionista e compositor Pantico Rocha, que toca na banda do cantor Lenine e já gravou com Maria Bethânia, Flávio Venturini e Lobão, dentre outros.
A partir da quarta-feira, os shows se deslocam para o Campus do Pici. Lá se apresentam os cantores Chico César, Mart´nália, Otto e Céu. A entrada para as apresentações será gratuita, mas a forma de acesso será definida e divulgada apenas nas próximas semanas. Leia mais na página 3
Destaques dia 18/10
9h30 - Mesa-redonda: "Histórias e saberes no panorama das culturas africanas", com Filipe Zau (Angola) e Jacques Depelchin (Congo). No auditório da Reitoria
14h - Palestra: "Implantação da Unilab: desafios e percursos", com Paulo Speller (Reitor). No auditório da Reitoria
16h - IV Mostra de Cinema Africano: palestra com o escritor e realizador audiovisual Ondjaki (Angola) e exibição do longa-metragem "Oxalá cresçam pitangas" (2006), de Ondjaki e Kiluanje Liberdade. Na Casa Amarela Eusélio Oliveira
17h - Abertura da exposição retrospectiva "Catadores do Jangurussu", de Descartes Gadelha. Apresentação do grupo Maracatu Solar. No Mauc
19h - Show Syntagma (CE) e Teresa Salgueiro (Portugal). Na Concha Acústica da Reitoria
Descartes Gadelha em retrospectiva
Além dos grandes shows musicais, a programação artístico-cultural do III Festival UFC de Cultura inclui ainda mostras de cinema, música, cultura popular, exposição de artes plásticas, oficinas, feiras de artesanato e gastronomia. Um dos destaques é a retrospectiva da exposição "Catadores do Jangurussu", que o artista plástico Descartes Gadelha apresentou em 1989, no Museu de Arte da UFC (Mauc). Com 70 pinturas e 50 desenhos, a mostra revela cenas do antigo lixão de Fortaleza.
"A Universidade resolveu homenageá-lo, por ele sempre ter mantido uma identidade com a instituição e um olhar voltado ao Ceará", explica Pedro Eymar, diretor do Mauc. "Quem escolheu a exposição foi o próprio Descartes, devido à grandeza da obra. ´Catadores do Jangurussu´ ainda não tinha sido mostrada completamente. Em 89 foram exibidas apenas 34 imagens, desta vez são 120 peças", ressalta Eymar.
A retrospectiva será inaugurada no dia 18 e segue até 30 de novembro. Em texto publicado em 1989, Descartes explicou que todas as telas foram executadas a partir de sua vivência no aterro sanitário. O resultado aparece em "cores deterioradas, próprias do lixo em decomposição", dizia.
O festival também marca o lançamento, segunda-feira, às 14h, no Museu de Arte da UFC, de dois manuscritos inéditos de José de Alencar: "Antiguidade da América" e "A raça primogênita". Já na Casa Amarela Eusélio Oliveira acontece a IV Mostra de Cinema Africano, que reúne nove longas-metragens independentes, sob o tema "In-dependências". A curadoria e a coordenação ficaram a cargo do professor Franck Ribard, do Departamento de História da UFC.
A mostra será aberta no dia 18, com palestra do escritor e realizador angolano Ndalu Almeida, mais conhecido pelo pseudônimo Ondjaki. Formado em sociologia e poeta premiado, ele trabalha, desde 1998, como roteirista e diretor para TV e cinema. Na ocasião, Ondjaki vem apresentar seu mais recente longa, "Oxalá cresçam pitangas", dirigido em parceria com Kiluanje Liberdade.
A mostra é uma realização do grupo de pesquisa "Trabalhadores Livres e Escravos no Ceará: diferenças e identidades", em parceria com a Embaixada da França no Rio de Janeiro. Após a exibição dos filmes, pesquisadores e especialistas do Senegal, Angola e Congo, além de professores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e da UFC, participam de debate sobre as produções.
Fonte: Diário do Nordeste